segunda-feira, 29 de setembro de 2008
Sobre tradução simultânea e muitos, muitos post-its
Devido ao sucesso do post anterior, resolvi deixar o blog um cadim mais aproveitando o sucesso antes de um outro post. Mas depois deste fim de semana, não poderia deixar de vir aqui.
Eis que fui convidada pela Malena para a loucura mais louca dos últimos tempos: abraçar um trabalho de tradução simultânea em um congresso de medicina pediátrica em pleno Centro de Convenções. Achou pouco a responsabilidade? Adicione isso ao fato de que eu havia ido para o tributo ao Bon Jovi pela Vulcani no Órbita na sexta e que tinha chegado ao casa às 3 da matina e que ela me liga às 7:36 da manhã do Sábado dizendo que o congresso começaria às 8:00, 8:30 por um atraso. Tive exatamente 3 segundos para me decidir e sem pestanejar (adoooro essa expressão) vesti minha roupinha e me soquei no primeiro taxi que me surgiu.
Adoro essas particularidades da vida. Há semanas eu vinha comentando com algumas pessoas como eu gostaria de me tornar tradutora simultânea e numa bela manhã de Sábado isso simplesmente me surge. Tenho minhas suspeitas de que a Malena não é humana e sim uma espécie de semi-deusa confirmada dois médicos cumprir a loucura mais louca dos últimos tempos, fazer tradução simultânea sem nunca antes ter sequer entrado naquela cabine quente e que, de fato, é uma panela de pressão daquelas. Não só pelo calor, mas pela ansiedade, pelos milésimos de segundo que temos para tomar uma decisão, pela sensação gostosa que percorre o corpo quando você percebe que está dando certo, que as pessoas estão entendendo e que você desenvolveu em horas a tal capacidade de ouvir e falar ao mesmo tempo em duas línguas diferentes. E a cada nova palestra, novas estratégias eram criadas, mais seguras ficávamos, e mais eu tinha certeza de que é isso mesmo que eu quero. Alguns sotaques absurdos, alguns palestrantes que por algum motivo fazem um slide show completamente diferente do que estão dizendo, outros palestrantes que deram verdadeiras aulas de como apresentar-se bem, de forma didática e objetiva e as duas intérpretes (veeixe) aprendendo e se deliciando com aquela maravilhosa nova experiência.
O engraçado é tudo que nós lêmos sobre tradução na cadeira de Aspectos teóricos e práticos daTradução ( da qual a Malena é a professora e eu aluna) ia se confirmando. E temos tanto a falar na próxima aula que eu preciso fazer um roteiro pra não passar das 9:30.
Enfim, foi absurdamente fantástico apesar do cansaço mental extraordinário. Até agora eu escuta as pessoas falando e a mente vai traduzindo. Aprendemos, entre outras coisas que:
1) É necessário uma boa noite de sono antes de pegar um evento assim;
2) Sem a ajuda dos médicos nós teríamos sido linxadas, uma vez que não pudemos estudar os assuntos anteriormente (e eles foram super atenciosos!)
3) Um intérprete é feito de uma mistura homogênea de calma, água, atenção e MUITOS, MUITOS post-its! De outra forma, como lembrar no calor das emoções sempre que aparecer a palavra "screening" que há de se dizer triagem? ou que BMI é Índice de Massa Corporal? E como avisar ao colega um termo que ele não tá conseguindo traduzir. A cabine ficou REPLETA de post-its. Aqueles papézinhos coloridos nunca foram tão úteis :D (amo ainda mais)
4) É absurdamente impossível trabalhar sozinho, há de se formar uma dupla dinâmica para cumprir a tarefa.
5) É necessário saber lidar com os imprevistos e acima de tudo ser muito, muito macho pra dar a cara à tapa e ser responsável pela informação que adentra os ouvidos das pessoas que não falam aquela língua e que estão contando com você pára entendê-la. Living on the edge total. E eu ADOREI!
Muito prazer, Jamie Barteldes, tradutora simultânea.:D
ps: sim, eu vou fazer todos os cursos necessários:D
segunda-feira, 15 de setembro de 2008
J facts: North Shopping
Habitantes comuns do Shopping (?) mais sem noção de Fortaleza. Detalhe: A foto está intitulada como "Lingudos no North Shopping," no Google Imagens
J fact 1: O North Shopping é Hogwarts. Isso num é um J fact. É uma coisa óbvia. J.K.Rowling visitou o Brasil, foi ao North Shopping e disse: É isso!Um dia a escada está lá, no outro dia não está mais. Elas tem vontade própria. E ainda tem a escada assassina que dá para o cinema. Alí é a seletiva. Você quer mesmo assistir este filme? Qualquer um com bom senso não subiria em uma escada vazada tremendamente alta. E quem tem bom senso também não volta mais alí. E ainda falando em escadas tem SEMPRE uma das escadas rolantes em manutenção. A desculpa mais descarada do mundo pra economizar energia.
J fact 2: O North Shopping está SEMPRE em reforma. E não é ajeitando uma coisa aqui ou outra alí, um dia tem um parque, outro dia um campo de construção. E você é obrigado a passar por debaixo de vigas pensas sustentando a passagem para os pedreiros. Coisa triste. Um dia eles acabam criando uma passagem que dê direito num terminal ou coisa do tipo. Ou pro inferno. Mas aí via depender da vontade das escadas.
J fact 3: Quem anda sempre no North Shopping adora aquilo. E não se perde. Claro! É meia década para entender a lógica daquele local, pois de nada adianta aprender o caminho, você tem que entender a lógica das bifurcações e das escadas. A pessoa passa tanto tempo pra aprender aquilo que depois de aprender não consegue mais entrar em um shopping organizado, enche a própria casa de escadas. E reza pra que elas tenham vida própria.
J fact 4: O North Shopping possue uma espécie de imã pra doidin. Tá certo que qualquer shopping chinfrim é capaz de fazer isso, mas o North Shopping se supera. A cada 10 pessoas, sete são uma mistura de "paty-gótico-com-camisa-da-Amy-Lee-disforme-pitty-atropelada-com-lápis-de-olho-barato-e-munhequeira-do-cpm-22". Eu não vou nem chamar de emo, por que emo se dá mais ao respeito. Dos três que sobram dos 10, dois são algum tipo de babaca correndo com a coroa de papelão do Burguer King ( qual é a graça disso, PELAMORDEUS?!) e a outra é uma velha. Até porque velha é coisa que se espalha.
J fact 5: As pessoas que trabalham lá, especialmente os seguranças e vendedores de sapato (as prováveis criaturas mais chatas da face da terra, acho que eles pedem emprego montando acampamento na frente das lojas, cantando paródias de forrós incluindo nas letras a vontade de ter um emprego e só os mais chatos conseguem), acham que você tem plena obrigação de saber onde fica cada mísera loja daquele antro. E ficam olhando pra você com cara de "me poupe, vai dizer que você não sabe onde é?" quando você pergunta onde diabos está o supermercado que era vizinho à loja de sapato. E apontam com desdém enquanto um "aff" escorre pelo canto da boca.
J fact 6: O North Shopping é tão desorganizado, mas tão desorganizado que eu dou minha cara à tapa como o Supermercado Lagoa contratou um conjunto de seres humanos só pra ficarem doentiamente organizando todos os produtos da loja. E só pra loja do North Shopping. Eu não tô brincando, nunca entrei num supermercado no qual os produtos estivessem tão metodicamente organizado. Os pacotinhos de arroz, os de Bombril, até os pacotes de queijo parmesão ralado, a coisa mais caótica deste mundo. Chega a incomodar a vista, você imediatamente olha pros lados pra verificar se não estão gravando um comercial ou coisa que o valha.
Exagero meu. Olha este blog aqui. Procurando fotos do North Shopping achei outro ser humano indignado.
J fact especial: Pra reclamar de alguma coisa, sempre haverá companhia neste mundo!
domingo, 14 de setembro de 2008
Sobre tapas na cara, auto-avaliação, Cegueira, North Shopping e a Síndrome Galvão Bueno
Long time, no see!
Nossa, chega as coisas estão empoeiradas por aqui. Passei um bom tempo longe, mas volto com toda a ânsia de escrita. Espero que a saudade tenha brotado no coraçãozinho-leitor de cada um de vocês. Saudade é bom, afinal. Faz a gente criar expectativas, refletir sobre tudo o que vivemos e ponderar sobre o futuro.
Nossa isso tudo por ter ficado um tempo longe do blog?
Ficar longe do blog é só uma consequência da bagunça que minha vida virou nestes últimos dias. Como uma TPM de um mês, imagina aí. Mas foi bom, crise é um negócio engraçado. Sem ela não há evolução e sem evolução não há muita diferença entre eu e este grampeador aqui ao meu lado. Isso falado parece besteira, mas isso vivido faz toda diferença. Quem nunca levou um pé na bunda, foi demitido, traído, perdeu apostas e entrou em um inferno astral daqueles brabos não sabe aproveitar os períodos de calmaria que a vida oferece. Pior que isso: nem sequer reconhece um bom período. O que quer dizer que deveríamos agradecer (a Deus, aos Deuses, a si mesmo ou seja lá no que se acredite) as épocas de dificuldade, seja ela psicológica, física, financeira ou emocional. E eu nem sei o porquê de separá-las por vírgulas pois quando a coisa aperta mesmo uma puxa a outra.
Mas, Ó, o que terá acontecido com esta jovem de cachos saltitantes?
Auto-avaliação. Tapas doloridos que a vida dá.
"Ai ,quer ser tradutora?"
PAH!
Tapa na cara: Será que você sabe Inglês o suficiente? Será que você tem estrutura psicológica? Será que não é mais uma das suas "leonices" de começar e se empolgar com as coisas como se aquele troço novo fosse o acontecimento mais relevante da sua existência e depois você vai deixar pra lá? Será que não tem por aí gente o suficiente traduzindo? Será que você tem o dom? E existe esse negócio de dom?
E isso é só meu caso, mas quanto tapas na cara a vida não já te deu? Quantas vezes você não teve que frear a empolgação, maneirar, ou até desistir de um projeto por motivos internos e externos?
Isso é bom, mas a gente não vê no meio do furacão como quem tá de fora. A gente quer que passe e passe logo. Esse negócio de crise dá muito trabalho pois crescer dá muito trabalho. E a cada ano que passa mais uma ruga aparece em meu rosto e eu me torno um pouco mais vivida, um pouco mais sacada, um pouco mais pronta pra seja lá o que venha a acontecer e quando eu estiver me sentido... PAH! Um tapa bem Maxwell Silver Hammer. Bang Bang! Marteladas na cabeça e a consciência sussura sorrateiramente...."Ei....você não sabe é de NADA!hahahaHAHAHA!".
E lá vai nego aprender tudo de novo. Outro ciclo começa, você mais forte, o mundo mais cruel e lá vamos nós. A vida é uma roda gigante apavorante. Mas a gente sempre paga pra ir de novo.
O negócio é esperar pela minha própria carta da Torre e ver castelos ruírem e deles fazer o novo.
Let's see.
E enquanto eu espero (ouvindo "Hey you've got to hide your love away" dos Beatles, vídeo no final deste post), posso enfim comentar o Ensaio sobre a Cegueira, ou melhor...Blindness, como foi chamado o filme baseado no livro fantástico de José Saramago (sou um tanto suspeita para falar de Saramago), dirigido por Fernando Meireles. Depois de muito espera posso dizer que:
1) Fantástico o filme não é, mas é muito bom sim. Chorei horrores, principalmente na terrível cena do estupro coletivo, mas certas coisas como a ausência de importância dada ao Cão das Lágrimas no filme (que sequer é nomeado como tal) foi só uma das coisas de que eu senti falta. Aí alguém diz: mas tudo não podia ter. Só que tem coisa que é essencial. Pelo menos pra mim.
2) Fã é foda. Depois de ver o filme pensei comigo mesma que podia ter sido a maior obra de arte, eu teria botado defeito pq Saramago é Saramago e melhor do que o que ele escreveu não tem como ter. Filme nenhum. Posso estar errada, mas isso faz com que eu tenha uma visão um tanto mais realista das minhas análises.
3) Quando as luzes se apagaram, Felipe sussurou no meu ouvido: "Bem-vinda ao pior cinema da cidade". Achei que era exagero dele. Até pq o North Shopping (ou melhor, Hogwarts, uma vez que como a escola de bruxos, as escadas de lá mudam de lugar aparentemente por vontade própria), é o shopping mais desorganizado que já conhecí, então talvez ele estivesse influenciado. Mas que nada. Levei meu casaco na bolsa pois sempre sinto frio em sessões de cinema, mas nem lembrei dele. Tava quente, lotado, com um áudio ruim e o pior de tudo - com o PIOR público que um filme pode possuir. Uma mistura disforme de adolescentes na puberdade com pouco ou nenhum poder de concentração, mulheres mal educadas que acham super conveniente conversar dentro do cinema (faz toda a lógica, é escuro e tem um filme passando e pessoas querendo prestar atenção, então, pq não conversar?!) e os velhos "relatores do óbvio". Ah, esses são os que mais me irritam. E não importa quantas vezes eu escreva isso aqui, eu vou sempre repetir. Eu odeio os relatores do óbvio. Um homem com uma faca, uma vítima acuada...polegar, indicador, polegar, indicador(by Malena)...SERÁ QUE ELE VAI SER ASSASSINADO? SERÁ?!!!. Aí o filho da mãe tem que dizer..."Ele vai matar ele.....". Perdoando o Português do retardado...É nada?! Mas ele não consegue continuar respirando se não disser aquilo, o sangue nas veias dele vira pedra se ele não narrar o que vai acontecer. Também conhecida como a "Síndrome Galvão Bueno", isto está dia após dia me afastando das salas de cinema. E quando pelo no North Shopping, um corvo chega na minha janela e diz: Nevermore!!!(e não há ressentimento em suas palavras....)
Aliás, o North Shopping devia render um J Facts, mas tô irritada demais pra pensar neles agora.
O clipe, um dos mais estranhos dos Beatles, You've got to hide our love away, que tem tudo a ver com os tapas na cara.