domingo, 17 de abril de 2011

Das perguntas



Como será que ele pensa em mim? Que lugar devo eu ocupar quando ele, ocupado ao computador ou quem sabe deitado, relaxado, distraído, olha para um ponto fixo na parede? Onde dentro dele mora meu carinho, meu cuidado, meu desejo?

Que rostos na rua se parecem com o meu aos seus olhos? Que cheiros? Que toque? Que imagem de mim lhe toma de jeito quando o café fica pronto, quando deita na cama, à noite, de repente, às 2 da manhã? Quantas vezes hesitou em me ligar, a vontade de ouvir minha voz aumentando e torcendo-lhe o peito? Quantas vezes me quis por perto logo quando eu estava tão longe? Quantos olhares desviou pelos meus olhos, quantas bocas recusou pela minha boca?

O que vê quando me vê despida? Que partes de mim mais aprecia? Que grito mais lhe enlouquece? De onde vem a força com que me toma nos braços, pernas, boca, a vida?

O que lhe fez perceber que me ama? O que sente quando me beija, quando lhe beijo? Do que é feito o que ele sente quando aperta minha cabeça contra seu peito, me aninhando com cuidado ou quando lhe aconchego o rosto no calor dos meus seios?

Quantas respostas responderão tantas perguntas? Quantas perguntas? Quanto?

Tanto...

17 de Abril de 2011
Trilha sonora: Je T'aime (Moi non plus) - Serge Gainsbourg

sexta-feira, 11 de março de 2011

"Eu voltei....agora é pra ficar...."

"Não tenha medo das mudanças."


Faz tempo que não bailarino os dedos por aqui. O computador é o mesmo, as mãos também, mas as semelhanças com o tempo em que este era meu blog oficial param aí. O dedo anelar da mão esquerda está despido, o teto sobre minha cabeça é agora o que era antes de me casar - a casa da mãe, das gatas, do cheiro de café, mofo, feijão verde e jasmim. Os cachos que pendem da cabeça - essa sim, profundamente modificada - assumiram a cor de cobre que se desfaz em louro ao que a tinta se esvai durante o mês. O coração, que amou, creu e se fez em pedaços, aos poucos se recupera, reconfigura-se em uma busca por amizade, e perde o medo de novamente ser carinhosa e disposta a amar um corpo tatuado e uma alma aprendiz que me impressiona todos os dias. Sob os cílios inferiores, olheiras do trabalho puxado nas salas de aula em que jurei não mais pisar. Mas há nos olhos um brilho, uma esperança, um sonho-meta que reflete uma bandeira branca e vermelha com uma maple leaf no meio.

As palavras são poucas e poéticas demais para serem plenamente compreendidas, mas sempre foi assim que escrevi - tão íntimo que chega a ser coletivo. Refletirei sobre a frequência das escritas por aqui e espero que o feedback seja bom. Chega a ser irônico voltar a escrever aqui por pedidos de leitores, logo esse blog que nunca foi de tantos visitantes. Encerro o post com uma canção que vem embalando meus sonhos ultimamente.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Adeus, Ch.









Um ciclo, uma época, um pedaço de vida. Encerra-se hoje o elemento modificador de meus caminhos e escolhas. Observo como quem quer guardar até os cheiros. Os alunos deixam a sala. Primeiro muitos, depois poucos e o último sai sem olhar para trás. Não olha pois não precisa recordar. Aquela sala é sua rotina, é motivo incômodo para acordar cedo, é para onde se precisa ir, deixando cantina e boas conversas para o fim da aula.

Eu fico.

Eu fico por não mais ficar.

Fico para estar alguns segundos a mais, mais um segundo além dos sete anos ali vividos. Fico e observo as cadeiras brancas bagunçadas, a sala suja, a lousa manchada. E lembro que ali já fui aluna e professora. Este prédio antigo e constantemente pintado de cores estranhas viu-me rir e chorar, acompanhou os acontecimentos mais importantes da minha vida, foi meu lar quando morava longe e quando morava perto.

Tudo girava em torno dele.

Por sete anos meus dias inevitavelmente começaram e/ ou terminavam em um lugar que a cada dia tinha mais faces desconhecidas. Passei de Paula para Jamie, de aspirante a jornalista para professora, de professora para tradutora, quase fui produtora de eventos, de solteira para comprometida, de comprometida para casada, de moradora da Maraponga para moradora do Centro e agora do Benfica.

Pretendo voltar, mas por outros meios. Volto como professora se a vida não desviar os acontecimentos pra um outro fluxo. O que era rotina, agora são lembranças. Guardo um pedaço do CH comigo e sigo em busca de um novo porto.

sábado, 7 de novembro de 2009

Sobre depois que vi "O leitor".



Há filmes que me deixam com uma sensação sensibilidade na pele. Filmes que quando acabam transformam o calor do hálito no perfume que emana da alma. É difícil achar um filme assim: calado, de cores leves e quentes, um filme que nos dá a sensação de que é possível tocar a pele dos personagens. Filmes tão pesados que você precisa de um tempo para digeri-los, mas não pode simplesmente sentar e contemplar a sensação.Hoje vi um filme assim.

E depois de um filme assim, qualquer atividade se torna inevitavelmente mais bela.

A sensação que percorre meu corpo se amplia ao universo ao meu redor. As cores adquirem outras formas. Ergo-me, como se ergue um corpo cobiçado, caminho pela casa bagunçada desviando dos objetos como se desviasse de amantes em transe. Vi a pia de louças sujas.

Odeio lavar louças, ainda mais louças de dias, mas ao segurar a esponja, senti sua aspereza e me pareceu bom. Esqueci-me das luvas para proteger o renda das unhas. Lavei cada prato com um carinho diferente, senti a superfície lisa, o liso do sabão que se transforma no áspero do prato limpo. Pousei cada louça no escorredor, primeiro os pequenos, depois os grandes. As gotas ensaboadas respingaram no vestido marrom de ficar em casa. Retirei vez ou outra a sujeira incrustada com a unha. Pensei que deveria escrever sobre a sensação. Mas antes de achar o propósito, dormi.

Escrito em Outubro de 2009, ouvindo Pink Floyd.

domingo, 21 de junho de 2009

Sobre a morte de minha TV




Fazia muito tempo que eu não ligava a TV. Depois de cancelarmos a TV à cabo e pegarmos o hábito de assistir filmes no computador ou no cinema, aquele utensílio ficou servindo como eventual cama do gato ou apoio para os trocados do bolso. Outro dia, estava no quarto adivinhando formas nas marcas de umidade na parede e resolvi ligá-la. Assisti TV durante exatos vinte minutos. Ví um pedaço de um jornal, um fim de um episódio de novela e um pedaço de um programa de entrevistas que discutia como um livro de quadrinhos com palavrões foi parar como leitura obrigatória nas escolas públicas do Rio de Janeiro. Daí a TV pifou. Fez um barulho esquisito, como se anunciasse sua partida, como se de alguma forma se despedisse (ou reclamasse o prolongamento de seu descanso) e morreu. E o silêncio que invadiu o quarto me fez refletir se eu estava triste ou feliz por sua partida súbita.

A verdade é que o fato da TV ter morrido foi para mim como um sexto dedo no pé que não incomoda e nem ajuda que um dia cai e, você pensa se vai sentir falta dele ou não. Fez parte de você por tanto tempo que alguns segundos de reflexão se fazem necessários. Assim foi a TV, algo que fez parte da minha vida por, digamos, toda ela, sempre lá, seja lá onde eu fosse, ligada ou desligada, com áudio ou sem. O fato é que eu acho que ficamos acostumados a TV.

Outro dia estava traduzindo para uma Sueca que apadrinha uma criança carente em uma cidadezinha do interior e ela me pediu para perguntar para a criança se ele tinha uma televisão em casa. Eu ri. Ficou até feio eu ter rido assim pra pergunta da gringa. Mas é que uma pergunta assim só poderia ser feita por alguém que não mora no Brasil. Toda casa tem TV aqui. Toda. Da mais pobre à mais abastada. O Brasileiro pode não ter nada, mas uma TV ele tem. E mais de uma, quase sempre. A TV está na casa e mesmo desligada está firme e forte na mente e nas opiniões dos brasileiros. Da mais viciada nas novelas ao breve telespectador do Fantástico, só é importante para o país o que passa na TV. E ai de você se não asssitir.

Para mim, com o advento da Internet, meu som e minha TV se tornaram objetos de decoração. Vejo tudo o que quero por aqui, leio o que quero por aqui, sei de tudo e de todos. Não me lembro da última vez que comprei um CD e a última vez que comprei um jornal foi para guardar de recordação a reportagem da banda da minha mãe. A profecia que dizia que os jornais e a TV vão se tornar objetos do passado é cada vez mais nítida para mim. Por isso, quando minha TV morreu eu tive a estranha sensação de que aquele era um momento a ser lembrado pela vida inteira, como aquelas biografias em linhas do tempo:

"2009 - Sua TV pifa e ela percebe que chegaram, enfim, os tempos modernos."

Ps: Como boa tradutora, fiz pergunta para a criança "carente. Ela me disse que tinha três Tvs.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Sobre Regina Spektor




Depois de um breve deleite com Kate Nash, acredito que, dessa vez, achei uma cantora contemporânea que realmente me chamou a atenção. O nome dela é Regina Spektor e de cara digo que este não é exatamente um nome artístico que me convidaria a ouví-la. Foi pelo MSN, após ouvir as músicas demo que a Longneck postou no myspace da banda que Cícero me indicou "Fidelity" e de lá pra cá é só o que tenho ouvido. Só o clipe já é fantástico. Bem no estilo que eu adoro, preto e branco, idéias mímicas, batom vermelho e um ar antigo-caricato. Sem contar que o que ela faz com a voz é simplesmente magnífico. Tendo esgotado o estoque do you tube é o 4shared quem me ajuda a conhecer mais de minha mais nova mania. Tirem suas próprias conclusões, então. O link abaixo dá acesso ao álbum mais recente dela, Begin to Hope.

http://www.4shared.com/file/47188024/1bd4a411/Regina_Spektor_-_Begin_To_Hope.html?s=1

sábado, 13 de junho de 2009

Sobre trabalhar no Sábado de manhã





Já devo ter escrito por aqui o quanto eu odeio trabalhar dia de sábado. Acho um crime forçar alguém a ter apenas um dia de acordar tarde, o domingo, que passa tão rápido! Trabalhar no sábado (e há quem trabalhe o dia de sábado inteiro) é um crime contra a saúde, o planejamento e o lazer de qualquer ser humano. A semana te consome por completo e quando você acha que acabou, vem o sábado ainda. No domingo, o indivíduo está tão acabado que nem dormir ele consegue, de tão acostumado o relógio biológico já está em madrugar durante os dias úteis.

Este semestre fui obrigada a voltar a dar aulas nos sábados de manhã, à contra-gosto, mas por uma boa causa. Próximo semestre, sem chance. A maioria dos bons eventos da cidade ocorrem na sexta-feira à noite. Eu quero descansar, poder viajar no fim de semana, além de ser também uma tremenda hipocrisia dar aula aos sábados - é notório que se finge que se ensina um idioma uma vez por semana. Sinto-me enganando pessoas. É necessária muita força de vontade e tempo, coisas que o aluno do sábado simplesmente não tem. Da mistura professor cansado mais aluno cansado só frustração pode surgir.