sábado, 7 de novembro de 2009

Sobre depois que vi "O leitor".



Há filmes que me deixam com uma sensação sensibilidade na pele. Filmes que quando acabam transformam o calor do hálito no perfume que emana da alma. É difícil achar um filme assim: calado, de cores leves e quentes, um filme que nos dá a sensação de que é possível tocar a pele dos personagens. Filmes tão pesados que você precisa de um tempo para digeri-los, mas não pode simplesmente sentar e contemplar a sensação.Hoje vi um filme assim.

E depois de um filme assim, qualquer atividade se torna inevitavelmente mais bela.

A sensação que percorre meu corpo se amplia ao universo ao meu redor. As cores adquirem outras formas. Ergo-me, como se ergue um corpo cobiçado, caminho pela casa bagunçada desviando dos objetos como se desviasse de amantes em transe. Vi a pia de louças sujas.

Odeio lavar louças, ainda mais louças de dias, mas ao segurar a esponja, senti sua aspereza e me pareceu bom. Esqueci-me das luvas para proteger o renda das unhas. Lavei cada prato com um carinho diferente, senti a superfície lisa, o liso do sabão que se transforma no áspero do prato limpo. Pousei cada louça no escorredor, primeiro os pequenos, depois os grandes. As gotas ensaboadas respingaram no vestido marrom de ficar em casa. Retirei vez ou outra a sujeira incrustada com a unha. Pensei que deveria escrever sobre a sensação. Mas antes de achar o propósito, dormi.

Escrito em Outubro de 2009, ouvindo Pink Floyd.