sábado, 27 de dezembro de 2008

Sobre o Natal, fim de ano e o blog novo




A gente devia viver de férias. Há poucas coisas no mundo melhores do que acordar um dia e não ter certeza de que dia da semana se está. E ler, ler infindavelmente. E dormir. Ultimamente venho dormindo tanto que estou me sentindo culpada. Hoje, por exemplo, resolvi acordar mais cedo (9 horas!) pra fazer alguma coisa de útil como escrever neste blog e divulgar o outro, que é meu e do Felipe. Falarei mais sobre ele amis na frente. A verdade é que estou tentando não pensar em trabalho, naquela miserável condição de ter seu dia dividido em horas, períodos oportunidades limitadas de descanso. E eu estava tão domesticada nessa rotina que nos primeiros dias de férias eu sequer sabia o que fazer. Acabei não fazendo muito do que planejei, mas o ano que se aproxima promete ser bem melhor que ano que passou, só pelo que me apresenta em seus últimos dias. Vou cuidar mais de mim e me dar mais tempo, me formar, cantar profissionalmente, entrar no mestrado, dar mais atenção aos meus. E por mais que isso pareça resolução de fim de ano, isso são metas latejando na minha cabeça, não há como levar a vida que levei no semestre passado.

E como uma das resoluções de fim de ano, voltei a trabalhar com o Felipe em um novo projeto. É a Terra dos Idiotas. Os J Facts agora tem morada garantida, acompanhados da gentileza sutil dos textos do Felipe. A verdade é que fazia tempo que pensávamos em um blog e todos os blogs são muito bonitinhos, buscando o melhor de cada um. E que tal fazer um blog com o pior de nós dois? Jamie Irrita e Fino Felipe, os personagens que falam por nós, são o pior que somos porta de casa adentro. E lá fazemos o que todo mudno gosta de fazer, seja no ônibus, seja no trabalho, seja em casa: reclamar. Pois como deixou claro meu último J fact, há sempre companhia quando se quer reclamar. Vale a pena dar uma olhada.

www.terradosidiotas.wordpress.com

domingo, 14 de dezembro de 2008

Sobre religiosidade e cegueira



"Minha mãe me disse há tempo atrás Onde você for Deus vai atrás Deus vê sempre tudo que cê faz Mas eu não via Deus Achava assombração, mas... Mas eu tinha medo! Eu tinha medo! "Paranóia, Raul Seixas

Depois de muito ler, vivenciar, buscar entender (e olhe que eu nem tanto li e nem tanto vivenciei), chego a conclusão segura de que a religião é o maior problema da humanidade. Algumas pessoas podem se achar nelas, e eu até acredito que há um período da vida que todos nós precisamos de um conjunto de regras morais pré-estabelecido, seja para seguir, seja para questionar, seja só pelo sentimento de pertencer a algum grupo, seja pela incessante vontade de acreditar em alguma coisa. E a maioria das religiões que conheço nos faz acreditar em absolutamente qualquer coisa além do poder de cada um, nos faz deixar de acreditar em nós mesmos.

É engraçado como somos criados no Brasil. A gente cresce acreditando que só existe uma religião, um Deus, uma forma de pensar. Temos aula de "religião" e não temos a menor idéia do que isso significa. As outras religiões além do Cristianismo e até mesmo a falta de religião é algo inconcebível. Fulaninho é bom por viver na Igreja. Bonito mesmo é se casar de branco, véu e grinalda. E se algo nos indigna a gente automaticamente fala "Oh meu deus...", "Valei-me minha nossa senhora". Está tão cristalizado na gente que a gente nem pensa em olhar pro lado, nem considera que exista outro lado. A gente perde a coisa mais interessante de ser humano que é a possibilidade de se questionar, de ter senso crítico, de escolher. E eu acho isso tão patético quanto um pai neurótico por futebol que enfia uma blusa do time preferido em um bebê e a criança cresce sem direito de escolha, sem saber que tem escolha. É assim com crucifixos, é assim com idas a igreja, é assim com os infindáveis terços que eu tive de rezar e as intermináveis missas que eu tive de assitir e as centenas de genoflexões que tive que fazer para que ninguém olhasse torto para mim e calava-me com o gosto estranho da hóstia na boca.

E eu nunca acreditei. E nem acredito até hoje. Mas isso nunca importou.

Assim que tive idade, dinheiro e independência para fazer minhas próprias escolhas, nunca mais pisei numa igreja, nem pus meu cabelo de lado, nem dei satisfação sobre a minha vida particular e todas aquelas pequenas coisas que a gente sonha fazer na adolescência. E conheci muita gente que me ajudou neste sair do casulo e muita gente assistiu boquiaberto as cores vívidas das asas que eu descobri ter e nem sabia. Acho que nunca vou me esquecer dos meus primeiros dias de faculdade, quando me ví em um lugar onde as pessoas se questionavam. Depois de 8 anos no interior, gostando de rock sozinha, lendo livros que ninguém lá nunca ouviu falar, eu chego aqui e encontro cabeludos, livros a preço de banana e uma ruma de gente pra conversar sobre assuntos que eu jamais imaginei. Eu ví em Fortaleza, esta mísera cidade do nordeste do Brasil, a possibilidade de ter asas. E fui criando dia após dia uma peninha.

Mas e o que isso tudo tem a ver com religião? Tem a ver que a poucos dias, tive minha gota d'água. Uma GRANDE, GRANDE amiga minha, que foi essencial em tantos momentos para rasgar os limites da minha até então limitada compreensão, virou evangélica. E a notícia saiu me rasgando por dentro, como se ela tivesse atingido o ponto mais alto do senso crítico, tivesse olhado para um lado e pro outro e tivesse se jogado de cabeça em direção ao primeiro degrau, uma regressão de conceitos, uma negação de tudo o que ela já disse, foi ou sentiu de legítimo se desfizesse diante dos meus olhos. E que nao venha evangélico nenhum deixar comentário de preconceito ou dizer que eu vou queimar no inferno. Não consigo conceber que uma pessoa de mente tão aberta se entregue a uma religião que trata mulher feito merda, que considera todo mundo culpado desde antes de nascer, que trabalha com o conceito de fez coisa errada-se arrependeu-vai pro céu, é-pq-deus-não-quis, se-Deus-quiser. Aliás, odeio estas duas últimas frases. Deus é a desculpa pra tudo. Por Deus se mata, por Deus se multila física e psicológicamente as pessoas, Deus é a excelente desculpa para tudo.

E o mais indignante é um e-mail que eu recebi outro dia. Um powerpoint ridículo sobre homens armados que entram numa igreja/culto e pergunta quem está disposto a levar uma bala por Cristo. A imensa maioria (CLARO!) sai, uns poucos ficam, os homens armados tiram os capuzes e dizem "Pronto, pastor, os hipócritas saíram". Eu fiquei boquiaberta de ter recebido um e-mail assim, ainda mais de uma pessoa inteligente com ela.

Será uma fase ruim? Será um momento de "fraqueza"? Será o desespero na descrença no ser humano? Será que é essa pessoa que tanto me ajudou a abrir os olhos que desesperadamente se venda?