sábado, 7 de novembro de 2009

Sobre depois que vi "O leitor".



Há filmes que me deixam com uma sensação sensibilidade na pele. Filmes que quando acabam transformam o calor do hálito no perfume que emana da alma. É difícil achar um filme assim: calado, de cores leves e quentes, um filme que nos dá a sensação de que é possível tocar a pele dos personagens. Filmes tão pesados que você precisa de um tempo para digeri-los, mas não pode simplesmente sentar e contemplar a sensação.Hoje vi um filme assim.

E depois de um filme assim, qualquer atividade se torna inevitavelmente mais bela.

A sensação que percorre meu corpo se amplia ao universo ao meu redor. As cores adquirem outras formas. Ergo-me, como se ergue um corpo cobiçado, caminho pela casa bagunçada desviando dos objetos como se desviasse de amantes em transe. Vi a pia de louças sujas.

Odeio lavar louças, ainda mais louças de dias, mas ao segurar a esponja, senti sua aspereza e me pareceu bom. Esqueci-me das luvas para proteger o renda das unhas. Lavei cada prato com um carinho diferente, senti a superfície lisa, o liso do sabão que se transforma no áspero do prato limpo. Pousei cada louça no escorredor, primeiro os pequenos, depois os grandes. As gotas ensaboadas respingaram no vestido marrom de ficar em casa. Retirei vez ou outra a sujeira incrustada com a unha. Pensei que deveria escrever sobre a sensação. Mas antes de achar o propósito, dormi.

Escrito em Outubro de 2009, ouvindo Pink Floyd.

domingo, 21 de junho de 2009

Sobre a morte de minha TV




Fazia muito tempo que eu não ligava a TV. Depois de cancelarmos a TV à cabo e pegarmos o hábito de assistir filmes no computador ou no cinema, aquele utensílio ficou servindo como eventual cama do gato ou apoio para os trocados do bolso. Outro dia, estava no quarto adivinhando formas nas marcas de umidade na parede e resolvi ligá-la. Assisti TV durante exatos vinte minutos. Ví um pedaço de um jornal, um fim de um episódio de novela e um pedaço de um programa de entrevistas que discutia como um livro de quadrinhos com palavrões foi parar como leitura obrigatória nas escolas públicas do Rio de Janeiro. Daí a TV pifou. Fez um barulho esquisito, como se anunciasse sua partida, como se de alguma forma se despedisse (ou reclamasse o prolongamento de seu descanso) e morreu. E o silêncio que invadiu o quarto me fez refletir se eu estava triste ou feliz por sua partida súbita.

A verdade é que o fato da TV ter morrido foi para mim como um sexto dedo no pé que não incomoda e nem ajuda que um dia cai e, você pensa se vai sentir falta dele ou não. Fez parte de você por tanto tempo que alguns segundos de reflexão se fazem necessários. Assim foi a TV, algo que fez parte da minha vida por, digamos, toda ela, sempre lá, seja lá onde eu fosse, ligada ou desligada, com áudio ou sem. O fato é que eu acho que ficamos acostumados a TV.

Outro dia estava traduzindo para uma Sueca que apadrinha uma criança carente em uma cidadezinha do interior e ela me pediu para perguntar para a criança se ele tinha uma televisão em casa. Eu ri. Ficou até feio eu ter rido assim pra pergunta da gringa. Mas é que uma pergunta assim só poderia ser feita por alguém que não mora no Brasil. Toda casa tem TV aqui. Toda. Da mais pobre à mais abastada. O Brasileiro pode não ter nada, mas uma TV ele tem. E mais de uma, quase sempre. A TV está na casa e mesmo desligada está firme e forte na mente e nas opiniões dos brasileiros. Da mais viciada nas novelas ao breve telespectador do Fantástico, só é importante para o país o que passa na TV. E ai de você se não asssitir.

Para mim, com o advento da Internet, meu som e minha TV se tornaram objetos de decoração. Vejo tudo o que quero por aqui, leio o que quero por aqui, sei de tudo e de todos. Não me lembro da última vez que comprei um CD e a última vez que comprei um jornal foi para guardar de recordação a reportagem da banda da minha mãe. A profecia que dizia que os jornais e a TV vão se tornar objetos do passado é cada vez mais nítida para mim. Por isso, quando minha TV morreu eu tive a estranha sensação de que aquele era um momento a ser lembrado pela vida inteira, como aquelas biografias em linhas do tempo:

"2009 - Sua TV pifa e ela percebe que chegaram, enfim, os tempos modernos."

Ps: Como boa tradutora, fiz pergunta para a criança "carente. Ela me disse que tinha três Tvs.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Sobre Regina Spektor




Depois de um breve deleite com Kate Nash, acredito que, dessa vez, achei uma cantora contemporânea que realmente me chamou a atenção. O nome dela é Regina Spektor e de cara digo que este não é exatamente um nome artístico que me convidaria a ouví-la. Foi pelo MSN, após ouvir as músicas demo que a Longneck postou no myspace da banda que Cícero me indicou "Fidelity" e de lá pra cá é só o que tenho ouvido. Só o clipe já é fantástico. Bem no estilo que eu adoro, preto e branco, idéias mímicas, batom vermelho e um ar antigo-caricato. Sem contar que o que ela faz com a voz é simplesmente magnífico. Tendo esgotado o estoque do you tube é o 4shared quem me ajuda a conhecer mais de minha mais nova mania. Tirem suas próprias conclusões, então. O link abaixo dá acesso ao álbum mais recente dela, Begin to Hope.

http://www.4shared.com/file/47188024/1bd4a411/Regina_Spektor_-_Begin_To_Hope.html?s=1

sábado, 13 de junho de 2009

Sobre trabalhar no Sábado de manhã





Já devo ter escrito por aqui o quanto eu odeio trabalhar dia de sábado. Acho um crime forçar alguém a ter apenas um dia de acordar tarde, o domingo, que passa tão rápido! Trabalhar no sábado (e há quem trabalhe o dia de sábado inteiro) é um crime contra a saúde, o planejamento e o lazer de qualquer ser humano. A semana te consome por completo e quando você acha que acabou, vem o sábado ainda. No domingo, o indivíduo está tão acabado que nem dormir ele consegue, de tão acostumado o relógio biológico já está em madrugar durante os dias úteis.

Este semestre fui obrigada a voltar a dar aulas nos sábados de manhã, à contra-gosto, mas por uma boa causa. Próximo semestre, sem chance. A maioria dos bons eventos da cidade ocorrem na sexta-feira à noite. Eu quero descansar, poder viajar no fim de semana, além de ser também uma tremenda hipocrisia dar aula aos sábados - é notório que se finge que se ensina um idioma uma vez por semana. Sinto-me enganando pessoas. É necessária muita força de vontade e tempo, coisas que o aluno do sábado simplesmente não tem. Da mistura professor cansado mais aluno cansado só frustração pode surgir.



sexta-feira, 12 de junho de 2009

COF COF COF COF COF





Rapaz...quanto tempo longe daqui. Como é que eu crio um blog para não parar mais de escrever e deixo de escrever?
Sem condições!
Volto hoje à ativa.
Mas como toda casa velha, primeiro preciso fazer a faxina para voltar à ativa.
De amanhã em diante, é texto todo dia para alegrar o coração dos meus leitores. Sim todos vocês!
Todos...todo...você aí...EI! Volta aqui!

domingo, 4 de janeiro de 2009

Sobre a gripe, ano novo em Canoa e metas



2009 começa e eu já estou gripada. Espero que isso seja uma espécie de bom presságio, tipo, "ficarás doente agora para não ficar no resto do ano". Isso seria ótimo. Não é isso o que mais nos desejam as mensagens de final de ano, saúde? Já pensou um ano inteirinho sem uma gripezinha sequer? Para mim que não lembro de ter passado na vida sequer um mês sem qualquer queixa, acho que sentiria até falta. E o mais engraçado é que eu tendo a ficar doente quando estou de folga ou de férias. Isso quer dizer que o trabalho me faz bem? Espero que não, o corpo pode adorar mas acordar cedo todos os dias não faz nada bem a mente.

O ano novo foi em Canoa Quebrada. Canoa estava na minha lista de "lugares-que-nunca-fui-e-sinto-vergonha-por-isso", junto com Jeri e com o fato de eu nunca ter comido lagosta. E valeu cada minuto! Mas isso foi o fim da viagem, ate chegar em Canoa há uma longa história...

Eis que passando pela beira-mar, ví uma daqueles carros com propostas de passeios e resolvi pedir informações. Havia um pacote razoável que incluía três praias, Morro Branco, Praia das Fontes e findava em Canoa Quebrada. Parecia realmente interessante. 7:20 da matina estávamos firmes e fortes em frente a um hotel esperando pelo ônibus. Pra começar, demorou um século até saírmos de Fortaleza, entre paradas nos hotéis para catar os turistas e paradas em postos para sacar dinheiro. No caminho, descobrimos que éramos os únicos "nativos", todos os demais eram turistas - a maioria Paulistas. Nunca escondí meu pouco apreço por nossos amigos sibilantes e para completar ainda pegamos um guia turístico incapaz de se calar por um instante e que explicava cada uma das gírias que usava - e não eram poucas. Chegando a Morro Branco, todos descem para pegar os Buggys e aí a primeira decepção: o passeio era pago por fora do pacote, e dava um total de R$60 para nós dois, e isso não nos foi falado em Fortaleza. Revoltados e dispostos a gastar nosso suado dinheirinho com algo mais útil do que um fabuloso passeio de buggy no sol quente com os paulistas, fomos levados, contra a vontade do guia e do motorista, direto para a Praia das Fontes. De forma rabugenta, o guia nos informa que podemos ficar na praia até os demais chegarem e que nem adiantava sair dalí pois grutas e formações interessantes eram longe demais e só seriam alcançadas via buggy. Mas sabe-se que somos rabugentos o suficiente para fazemos nosso próprio passeio e seguimos a andar pela praia. E não é que descobrimos formações e até uma gruta! Na volta, conversando com o guia, passou pela minha cabeça fazer turismo, eu não enganaria as pessoas desta forma.

Chegando a Canoa, descobrimos que a irmã do Felipe estaria por lá e resolvemos abandonar o passeio e ficar por lá até o outro dia. E foi a melhor coisa que fizemos. As fotos que conseguimos são provavelmente as mais bonitas que tiramos desde as de Juazeiro. Viajar é realmente uma coisa fantástica! Canoa é linda, suas areias coloridas, suas falésias, sua segurança...Finalmente conhecí a Broadway, que não tem nada de Broad (largo), mas tem os barzinhos mais fofos do mundo, e até meu sonho realizado, um café com livros à disposição do cliente. Até divagamos acerca de largar tudo por aqui e ir morar por lá, perto de um mar limpo, restaurantes fantásticos e o pôr-do-sol mais acobreado que eu já ví. A única coisa que não vale a pena em Canoa são os garçons. Aliás, foi a unica coisa de útil que o guia nos disse. É cada um mais incompetente que o outro, parece que estão em uma espécie de competição para ver quem atende pior. Tirando isso, foram dois dias magníficos. Uma queima de fogos fantástica, mais um ano novo ao lado do meu amor, numa terra paradisíaca. Um dia ainda nos mudamos para lá, vocês vão ver.



Bom, só posso desejar a todos um 2009 maravilhoso. Não se esqueçam de fazer suas listinhas de promessas. Elas são bastante úteis. Na minha há promessa de comprar um carro, cantar em uma band séria, me firmar como tradutora, me formar, passar o carnaval em Salvador e conhecer o sul no final do ano. Se isso tudo vai acontecer, não sei. Mas sonhar sempre nos foi permitido.