segunda-feira, 2 de junho de 2008

Sobre experimentar e descobrir-se




1. The Road Not Taken
Robert Frost (1874–1963). Mountain Interval. 1920.


TWO roads diverged in a yellow wood,
And sorry I could not travel both
And be one traveler, long I stood
And looked down one as far as I could
To where it bent in the undergrowth; 5

Then took the other, as just as fair,
And having perhaps the better claim,
Because it was grassy and wanted wear;
Though as for that the passing there
Had worn them really about the same, 10

And both that morning equally lay
In leaves no step had trodden black.
Oh, I kept the first for another day!
Yet knowing how way leads on to way,
I doubted if I should ever come back. 15

I shall be telling this with a sigh
Somewhere ages and ages hence:
Two roads diverged in a wood, and I—
I took the one less traveled by,
And that has made all the difference. 20


Fico pensando na pessoa que eu era há 5 anos, há dez. Fico pensando na avalanche de coisas que aconteceram em tão pouco e tempo e que mudaram tanta coisa em mim, física, emocional e intelectualmente. Os livros que lí que me marcaram, os filmes que em mim deixaram rastros, os personagens determinantes que surgiram em minha vida, os amigos que tive, os que deixei de ter, o amor-tutor que abriu meus olhos para além das cinco cores óbvias do mundo. Eu era- e ainda sou em muitos aspectos - uma pessoa de mente limitada, cheia de preconceitos, medos, alguém que não olha além do próprio alcance das mãos. Uma pessoa ignorante. Não tanto de conhecimento - sempre tive aquilo que diferencia um idiota de um ser pensante: a curiosidade. Era uma pessoa ignorante de mim mesma. E acho que essa é a pior das ignorâncias; quando deixamos que as milhões de forças ao nosso redor cujo intuito primordial é limitar a visão do todo possuam de vez nossos sentidos e nos impeçam de transformar os "pq sim" em "pq não?". O modelo de família, de trabalho, as religiões(ou o que nos fizeram acreditar que é religião), o modo como nos disseram que deveríamos sentir, como deveríamos nos relacionar, tudo isso vai levantando um imenso muro através do qual é impossível que a luz do discernimento traga vida. Quando não reconhecemos a cara no espelho, nossas idéias em nossas palavras, quando não achamos aquilo que achávamos ser nas reações que provocamos nos outros, quando olhamos para a menina sentada do seu lado no ônibus vestir suas mesmas roupas, provavelmente está escutando a mesma música que você e ainda mais provavelmente tem os seus mesmos sonhos, medos e anseios, quando parece claro que você é igual a maioria, nos sentimos felizes, algo está muito, muito errado:você é um feliz e confortável padrão. Isso me lembra a ridícula comunidade do orkut "Sou normal, descobri no orkut". Nos sentimos felizes por fazer parte de uma grande sopa homogênea de pessoas que róem as unhas, não gostam de verde, escutam uma mesma música quinhentas vezes e que odeiam quem odeia alguma coisa. Limitamos o filtro da sanidade ao que todo mundo faz, pois ser diferente em alguma coisa é um crime; ser diferente é você e ninguém quer ser somente a si mesmo.

Acho que se conhecer não é achar um punhado de pessoas que gostam das mesmas coisas que você, ou seguir aquilo que te disseram que era certo e você não questiona pq mudar dá um trabalho danado. Acho que se conhecer é experimentar, é tentar, é conhecer. A maior parte das coisas que a gente morre de medo são coisas que a gente conhece pouquíssimo. Ou pior, acha que sabe muito pois deu ouvidos àqueles velhos limitadores já citados, se agarrou ao discurso já cheiroso e bonitinho de alguém, mudou um artigo ou um tempo verbal e acha que saiu da própria cabeça. Não, não sou a "garota mudança". Odeio mudar pq mudar dói, dá trabalho e deixa cicatrizes incuráveis. Mas adoro mudar pq são essas cicatrizes que me fazem olhar para as coisas como elas realmente são. Existe uma grande diferença entre pular de pára-quedas e passar a vida lendo acerca dos pulos alheios.

O tempo de vida que temos e conhecimento que adquirimos é inversamente proporcional. Durmo todos os dias com os fantasmas dos livros que eu nunca vou ler, dos conhecimentos que nunca serei capaz de adquirir, das experiências de vida que jamais vivenciarei. Ás vezes esse olhar para a vida como uma contagem regressiva inclusive nos impede de viver as coisas mais bobas da vida com naturalidade, olhar para o pôr-do-sol na praia e ficar entre aproveitar cada minitinho mágico ou dá um jeito de guardar a sensação na memória (isso também me lembra festas onde as pessoas passam tanto tempo tirando fotos que acabam não aproveitando a companhia das pessoas ao redor.)

20 comentários:

Rogério Lima disse...

Adorei o Post mas são 1:01 da matina e eu estou morrendo de sono, sem falar na vontade de fumar...Pelo menos consegui postar mas foto que ébom...? : Necas do tibiribe!
amanhã entro aqui e posto "de verdade"!
bjin

Rogério Lima disse...

Outra coisa: O horário do teu blog ta errado! Quer me passar a perna... são 1:04hs agora.... grrrrrrrrrrrrrrrr
Fui ..

Anônimo disse...

Não sei se a J reparou, mas esse texto dela foi Shakespeariano, pois a profundidade da temática existencialista posta por ela foi tal, que ao meu ver alcançou (de uma forma moderna - não estou dizendo que shakespeare não o é, apenas é de minha opinião que na forma escrita por ela é MAIS moderna) o mestre da língua inglesa .
E o superou em certos aspectos, como por exemplo, trazer as razões pelas quais fazemos algo e pensamos se estamos certos ou não, tanto hoje como no passado...a busca interminável da auto-compreensão.

Ainda acho que ela foi além, incorporou pensamentos próprios tão generalistas quanto o ancestral erudito pôs e, ainda assim, aposto que do mesmo jeito que lemos os livros dele e nos perguntamos como pode ser tão atual essas palavras centenárias, teremos a mesma impressão com este mesmo texto da J mesmo que daqui há um bom tempo.

p.s - fragmentos de textos do escritor mencionado por ser encontrado aqui:
http://www.pensador.info/p/a_carta_de_shakespeare/1/

Não ache que eu comparei os textos por mera ocasionalidade, aponto a complexidade do tema que a J se debruçou e abraçou muito bem, afinal, descrever-se a si próprio é não é o maior dos desafios, agora entender-se são outros 500.

beijos J, dessa vez você ARRASOU!

p.s - sem babação.

Anônimo disse...

troca "...por ser..." no 1 p.s, por "...podem ser.." que diminui o número de erros que eu cometi. =D

Anônimo disse...

ai... droga, faltou um S no "..Se não é o maior.." seguinte, ZERO pra mim, mas também, duas da madruga e eu postei de 1 sem nem reler pra corrigir. AH! QUE SE DANE! houve comunicação. (tosca, mas houve) ^^

Jamie Barteldes disse...

Roger, força! Vc consegue. Tarantino confirmado pra domingo , hein?

Dino, eu ainda estou em estado de choque quanto ao seu comentário, me comparar a Shakespeare é o tipo de coisa que avi me levar o resto do dia para digerir. Portanto, mais tarde comentarei com mais propriedade.

Rogério Lima disse...

Olha só... eu ia fazer um daqueles comentários tipo "rasgação de seda",elogiar horrores, falar bem demais mas depois do Dino e o "seu" Shakespeare é melhor eu ficar quetinho.. Devia ter postado quando naquela hora.kkkkkkkkk
Bjos

Rogério Lima disse...

Mas votei na enquete ....

Jamie Barteldes disse...

ah...:(

elogia aí, vai...

Jamie Barteldes disse...

Comentário da Kel pro e-mail:

Comentários? Impossivel, minha cara, vc atingiu o àpice da auto-expressão.

Anônimo disse...

obs - uma coisinha que eu não gostei, a formatação do texto, ele todo justificado me deixa com sono, já o "alinhar a esquerda" me deixa mais a vontade, não sei o pq =P

beijos e não retiro o comentário, EU FIQUEI com vontade de escrever algo como vc escreveu dias atrás, mas ao ler o que vc escreveu, me pôs no bolso. ^^

p.s - não adianta pedir, que eu não posto o que escrevi, é pessoal ^^

cheiro no cangote ^^

Jamie Barteldes disse...

tu sabe que eu vou pedir, né?
Tu sabe que é mais forte que eu!!
Faz assim, manda pra mim :D (leitura exclusiva é mais chique)

Vixe, que bom que todos gostam mais à esquerda pq eu sempre esqueço de consertar e fica assim meio trocho, mas eu gosto da tronchidão.

:D

(E aí, dino, dá pra respirar aí no meu bolso esquerdo ou quer passar pro direito? hehehe)

Rogério Lima disse...

NOVA ENQUETE INTERNA: VOCÊ PREFERE OS TEXTOS ALINHADOS A ESQUERDA OU JUSTIFICADOS?
Dino ------ 01
Roger ------01
Chico ------01
Purantana --01
alterego do Roger ----01
Alterego do Chico ----01
Alterego do Purantana-01

RESULTADO FINAL:
Dino 01 x todo mundo 06

Decisão democrática: Os textos em que serem justificados,ora pois!
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

Rogério Lima disse...

Menina .. eita que é comentários ... empresta uns pra mim?

Anônimo disse...

égua...que votação mais tosca, vou criar uns 20 amigos imaginários ( todos AMIGOS da J tb ^^ para eu ter uma vantagem garantida) ehehehhe

Jamie Barteldes disse...

hahahhaha

J adora esquizofrênicos:D
Eles comentam em dobro!

:D

Jamie Barteldes disse...

num é...

são esses comentários que me fazem postar com mais frequencia!

:D

Patricia M. disse...

Criatura de minha vida! Esse texto tá denso! Concentra indagações e suas respectivas respostas numa ciranda de auto-afirmação e reflexão sobre a alteridade bem característica do momento atual.

Bem, o Dino já disse quase tudo. De Shakespeare só li Comédia dos erros, e não entendi bem. Portanto, naõ tenho parâmetros pra avaliar a comparação, mas acredito que seja pertinente.

Jamie Barteldes disse...

all I can say is...

18 comentários!

0.0

Ananda disse...

Você parece que adivinha tudo!
Eu também vivo com esse fantasma de tudo o que não vou conhecer, da saudade de tudo que não tive e que não vou ter.
É bom demais ver as mudanças.Elas ferem mesmo, mas servem pra que a gente cresça.
E você sabe o quanto eu amo meus strokes, né?